
Já no início da
conversa, DEMÉTRIUS DO BIMBO adverte
os presentes que deveriam “bolar bem a
conversa”, já que o “promotor é
esperto, não é tonto”. Imediatamente, DEMÉTRIUS
DO BIMBO dita às testemunhas o teor das declarações que deveriam prestar. Simulando
o provável interrogatório, DEMÉTRIUS DO
BIMBO faz aos presentes algumas perguntas que, em seu entender, seriam a
elas dirigidas pelo órgão do Ministério Público:- “Alguém fez alguma coisa de graça para vocês? Algum candidato fez
alguma coisa de graça? O prefeito fez alguma coisa?” Então, DEMÉTRIUS DO BIMBO aponta quais devem
ser as respostas corretas (ainda que mentirosas) a esses questionamentos:- “não, o prefeito, nem falei com o prefeito.”
Para justificar o uso do maquinário e equipamentos da Prefeitura na
realização das obras, DEMÉTRIUS DO BIMBO
aponta qual deverá ser a justificativa:- “Fala
eu fui lá, recolhi as horas lá, que a prefeitura recolhe para todo mundo,
recolhi as horas e acabou, entendeu?” Ciente de que poderia se exigir das
testemunhas a comprovação dos gastos com as obras, DEMÉTRIUS DO BIMBO forja a mentira que eles deveriam apresentar:- “ó doutor, eu comprei o tubo lá em Lindóia,
lá em 2011, não queria que eu guardasse a nota do tubo, né?” Um dos
presentes pergunta a DEMÉTRIUS DO BIMBO
como deveria responder ao questionamento das pedras utilizadas na obra, cujo material
foi doado por ele em troca dos votos. Ardilosamente, DEMÉTRIUS DO BIMBO responde:- “fala
que vocês compraram.” E mais uma vez DEMÉTRIUS
DO BIMBO se certifica se todos compreenderam a necessidade de mentir:- “Entendeu? Então a linha, a linha é essa aí.
O que não pode é cada um falar uma estória, né? Mas DEMÉTRIUS DO BIMBO vai além. Como forma de afastar qualquer
participação da Prefeitura e de seus agentes na conduta ignóbil por ele
arquitetada, orienta as testemunhas para que “sabe o que você tem que falar da prefeitura também? Fala, olha doutor,
tanto que eu paguei a coisa, que eu to querendo que faça a estrada minha aí, a
estrada tá uma desgraça aí, e não fizeram. Se tivessem feito tinham feito a
estrada também, né? Iam fazer só a ponte?” Os presentes se surpreendem com
a malícia de DEMÉTRIUS DO BIMBO e
com a capacidade dele tramar a mentira e lhe dar ares de verdade. Neste momento
todos os presentes caem na risada. Riem de ter vendido o voto a um político corrupto
e fisiologista. Riem da própria ignorância. Como forma de assegurar a
impunidade de sua conduta, DEMÉTRIUS DO
BIMBO reitera a todos que devem dizer que “ninguém fez nada de graça para nós, nem a prefeitura, nem candidato,
nem ninguém.” A essa altura, já sem nenhum pudor (se é que possui essa
qualidade), DEMÉTRIUS DO BIMBO
mostra-se mais enfático e específico:- “ele
(Promotor de Justiça) não vai perguntar pra quem você votou, certo? Agora, você
conhece? Ah, teve gente que fez reunião lá? Teve uns par de candidato. Ah, o
coiso fez também, o Demétrius? Fez também. Entendeu? Todo mundo fez?” DEMÉTRIUS DO BIMBO quer desassociar sua
pessoa das testemunhas:- “então, fala
todo mundo foi lá. Teve gente que foi lá pedir voto? Teve gente que foi pedir
voto. Todo mundo foi? Foi. Entendeu?” Entretanto, nem bem terminou o seu
discurso, um dos presentes diz que, na verdade, apenas um candidato passou por
lá pedir votos. À exceção, por óbvio, do investigado. Ou talvez a testemunha
tenha sido literal, já que DEMÉTRIUS DO
BIMBO não pediu, mas sim comprou...No final da conversa, as testemunhas e DEMÉTRIUS DO BIMBO tentam achar um
valor a ser apresentado como o total de gastos com a obra. DEMÉTRIUS DO BIMBO sugere que as testemunhas digam que a obra
custou R$ 5.000,00. Segundo ele, esse valor poderia confirmar a mentira. Uma
das testemunhas diz:- “se fosse fazer um
servicinho daquele particular (referindo-se à construção da ponte), se fosse pagar do bolso tudo particular, é
capaz que ficasse uns doze paus (doze mil reais), treze paus (treze mil reais), acho”.
A testemunha então pergunta ao Secretário de Serviços Municipais se seu
raciocínio estava correto:- “não é
Jorge?” Essa frase é sintomática e bem reflete que as testemunhas não
arcaram com o valor total das obras, já que sua maior parte foi custeada por DEMÉTRIUS DO BIMBO, quer pela entrega
de dinheiro, quer pela entrega de materiais, quer pelo emprego de máquinas,
equipamentos e servidores públicos.
(trechos extraídos da
AIJE nº 83877)